A Lenda (versão popular)

Conta-se que há muito tempo atrás, no local que hoje é conhecido como o centro da Torre dos Namorados existia uma cidade muito povoada onde abundava a prosperidade e a felicidade de todos.

A cidade era governada por um rei muito consciente dos seus deveres para com os súbditos. Era dotado de um sentido de justiça apuradíssimo e revelava uma moral inabalável e incorrupta. Muito estimado pela população, para este governante, a palavra tinha um valor insubstituível e, dizia-se na altura, "antes preferia morrer que vergar".

Ora, por esta ocasião, tinha o rei uma filha em idade casadoira que fazia suspirar de paixão e desejo os mancebos da cidade devido à sua beleza sem igual na região.

Atrevimento para pedir ao rei a mão da princesa faltava a quase todos os jovens apaixonados. O rei era estimado por todos. Porém, o seu perfil de monarca rígido e moralista fazia adivinhar que não teria os menores escrúpulos em mandar para a forca quem se atrevesse a cometer a mais pequena indelicadeza ou ousasse falar-lhe sequer na mão da real filha.  

Tempos passaram e a beleza da princesa cada vez era maior. Cabelos de ouro e face que parecia irradiar a luz do sol, eram formas comuns de caracterizar a sua beleza única.  

Estes atributos foram fazendo com que, em certa tarde de Primavera, os dois jovens mais ousados, aguerridos e bêbados de paixão se dirigissem tímida e corajosamente ao palácio real com o propósito de falarem com sua majestade a fim de obterem consentimento para casarem com a jovem princesa.

O rei recebeu-os com a dignidade de pretendentes a seus genros e respeitou os seus sentimentos honestos de puro amor para com a jovem. Obviamente, a sua filha era única e apenas um podia ser o ilustre marido da princesa. Como monarca justo que era e, tendo a mesma consideração e estima pelo carácter e amor sincero dos seus dois jovens súbditos, falou-lhes nos seguintes termos:

«- Meus caros jovens: não tenho qualquer dúvida de que qualquer um de vós ama perdidamente a princesa e de que poderá vir a ser um excelente marido para a minha filha e um melhor pai para os meus netos e sucessores. Contudo a minha filha, a quem venero com todo o meu coração, é única e vós sois dois pretendentes. Se der a sua mão a um de vós errarei e estarei a ser injusto porque não tenho motivos para excluir qualquer um de vós.»

«Entretanto a cidade está a ficar com problemas de abastecimento de água à população que não pára de crescer. Por outro lado, o palácio onde habito não dispõe de uma torre sólida e funcional que nos possa por a salvo em caso de um ataque imprevisível dos nossos inimigos.»  

«Eis as tarefas que vos proponho: um de vós deve iniciar a construção de um aqueduto suficientemente eficaz e sofisticada que resolva de uma vez por todas os problemas de abastecimento de água à cidade. O outro deve empenhar-se na construção de uma torre tão sólida e funcional que este reino nada venha a recear em caso de ataque e cerco pelos nosso inimigos.»

«Começai os trabalhos amanhã ao alvorecer. O primeiro que acabe a tarefa que lhe estou a destinar terá a honra de casar com a minha filha e vossa princesa. Agora ide e que ganhe o melhor!».

[prosseguir]

© João Teodósio, 1999.