A Lenda (II parte)

Posta a situação nestes termos, deram os jovens por bem empregue o tempo e a coragem de que dispuseram para se dirigir ao palácio real a fim de pedir ao rei a mão da filha e, no dia seguinte, puseram mãos à obra.

Passaram-se meses. As obras de um e outro empreendimento avançavam com rapidez e em breve se concluiriam.

No dia em que se podiam dar por terminadas era grande a excitação, quer da corte, quer da população da cidade. Todos se dirigiram ao centro da cidade para verificarem qual dos dois mancebos iria desposar a jovem princesa.

Mas o dia, que nascera cinzento, pouco haveria de clarificar. Exactamente ao mesmo tempo em que um jovem colocava a bica na fonte principal de abastecimento da cidade que a partir daí não mais pararia de jorrar, o outro acabava de colocar a última peça de ouro no pináculo de uma espectacular e sólida torre capaz de defender a cidade dos maiores ataques inimigos.  

Continuava por apurar o noivo da bela princesa.

O rei estava estupefacto e as sua face ficou pálida de amargura. Não poderia cumprir o prometido. A população decidiu que os dois jovens deveriam envolver-se num duelo de espadas em que o que ficasse sem se ferir casaria com a jovem. Eles assim fizeram, mas as suas espadas quebraram-se ficando os jovens sem uma única beliscadura.  

Decididamente parecia que a princesa teria de permanecer solteira, os jovens sem constituir família e o rei sem poder cumprir o prometido. Facto grave e intolerável para o monarca. É que ninguém como ele tomava à letra a sentença: "palavra de rei não volta atrás".

Foi então que, como um trovão, se ouviram as seguintes palavras doídas que saíram da boca do rei:

«- Torre feita, água à porta; filha de el-rei morta!»

[Prosseguir]

© João Teodósio, 1999.