O poço da Torre dos Namorados

 

O autor considera estar perante uma estação e um grupo de materiais arqueológicos de rara importância que caracterizou como sendo romanos. Refere que existiu uma exposição de alguns materiais no Museu Arqueológico doFundão e que, do conjunto de factos que a seguir narra, se fez uma comunicação na Secção de Arqueologia da Sociedade de Geografia de Lisboa em 26 de Junho de 1969.

 

"No dia 16 de Maio de 1969, o Revº P.e António G. Morão, prior da freguesia da Orca (Fundão) e meu particular amigo, durante uma breve estadia em Lisboa, informou-me que adquirira um comjunto de vasos metálicos, que haviam sido recentente achados na "escavação dumas construções soterradas na Quinta da Torre, da freguesia de Vale de Prazeres.

Pelo exame da fotografia que teve a amabilidade de me oferecer na altura, e pela descrição resumida que fez do local e circunstâncias do achado, fiquei com a convicção de que se tratava de um importante e muito raro conjunto de vasilhas de bronze - «parecem doiradas» - que nessa ocasião, apressadamente, julguei único no nosso país.

Combinou-se uma visita à Orca para ver os materiais e local do achado, visita essa que efectuei nos dias 24 e 25 do mesmo mês, na companhia desse meu amigo, e do proprietário Sr. José Teodósio Canarias.

O local do achado situa-se numa horta que o referido senhor possui no Vale do Cortiço, próximo do Chão da Torre - onde as lendas locais situam a famosa Torre dos Namorados. De facto, não só aí, como numa vasta zona à sua volta, constatei a existência de inúmeros grandes blocos de cuidada cantaria de granito (que em alguns casos excedem três metros de comprimento), reutilizados na costrução dos casais. Nas terras de semeadura, hortas e olivais circundantes, observamos muitos fragmentos de tijolo macisso, telha de rebordo e "dolia". Da alvenaria de pedra irregular dos referidos casais destacava-se, por vezes, uma pedra moldurada, um pedaço de fuste de coluna e até um grande peso de lagar.

Tudo isto, que ia sendo registado e fotografado à medida do percurso, pareceu-nos indicar uma importante villa rústica que se estendia por essa vasta área.

Durante uma visita à estação, o Sr. Teodósio Canarias foi-nos contando que, ao pretender fazer um poço de rega num ponto previamente demarcado por um "vedor", encontrara, cinquenta centímetros abaixo, algumas pedras regularmente dispostas em quadrado, que lhe alertaram a atenção e o levaram a demorar a escavação. Tratava-se, como em breve verificou, dum poço «muito antigo», soterrado, por coincidência curiosa, no local onde pretendia fazer o novo.

E efectuou a escavação do poço que encontrara, com um bom senso tanto mais de louvar, quanto conseguiu, não o destruindo, incorporá-lo na parede do grande poço circular que fez construir ao lado.(...)

Deste modo, desmontando a parede Este do poço, foi baixando a escavação até atingir a rocha base e verificar que o poço ainda se afundava cerca de um metro na bancada de xisto, Durante este trabalho, recolheu o jarro de barro, as três vasilhas metálicas que «estavam como que deitadas no centro do poço» e alguma peças metálicas que descreveremos adiante."

Gustavo Marques, in O Poço da Estação Romana da Torre dos Namorados, Volume VIII, Conímbriga, Faculdade de Letras e Instituto de Arqueologia, Universidade de Coimbra, 1969.

 

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